Especialista russo no método Stanislávski indica esportes para os jovens atores


Convidado especial dos eventos que celebram os 160 anos do diretor, ator e escritor russo Constantin Stanislávski, no Teatro Escola Macunaíma, em São Paulo, Grigori Zaslavsky já viveu no Brasil uma experiência em formato de maratona.

O reitor do GITIS, o Instituto Russo de Artes Teatrais, a mais antiga escola independente de teatro da Rússia, fez em 2010 uma viagem de 24 horas para assistir uma adaptação de “O Idiota”, de Fiódor Dostoiévski, em Fortaleza (CE).

O espetáculo, com sete horas de duração, encantou Zaslavsky pela emoção com que foi encenado, o que, na opinião dele, faz justiça à obra do escritor russo. “Acho que essa paixão, essa emoção, corresponde muito ao público do Brasil”, diz.

Na visita marcada para a próxima terça (10), o reitor estará no Brasil como protagonista. Figura central nas artes cênicas da Rússia, ele fará uma palestra sobre o método de Stanislávski, um dos pilares da atuação moderna, cujo legado se dedica a difundir.

Realizado por meio de parceria entre o Teatro Escola Macunaíma e o GITIS, o encontro é viabilizado pelo Russian Seasons, uma iniciativa cultural financiada pelo governo russo e promovida em vários países.

Além da palestra, o intercâmbio trouxe a São Paulo, pela primeira vez, professores do GITIS para uma série de workshops com o tema “a prática do sistema Stanislávski”, em aulas com tradução simultânea, sessões teóricas e práticas para alunos selecionados pelo Macunaíma.

“Stanislávski é muito atual”, afirma Zaslavsky. “E acho que ele é igual o Isaac Newton. O Newton, na verdade, não inventou nada. Ele simplesmente formalizou algumas regras. Acho que o Stanislávski fez a mesma coisa.”

O reitor do GITIS cita o diretor inglês Gordon Craig para afirmar que o criador da obra mais significativa sobre atuação no teatro foi o maior ator do mundo, com uma forma muito prática de pensar e estruturar o ofício.

“Não acho que os atores precisam seguir literalmente o método dele, mas ele dá muitas opções para simplesmente facilitar a vida dos atores, a interpretação”, afirma. “Os atores de Hollywood nunca perdem uma palestra sobre o método de Stanislávski. Sabem que nesse método tem parte do sucesso deles.”

“Stanislávski foi um revolucionário ao desenvolver uma abordagem inovadora para a atuação, cujo objetivo era revelar o espírito humano”, afirma Simone Shuba, professora do Macunaíma. “Ele acreditava que a atuação deveria expor a verdade interior de cada indivíduo, individualizando a criação com base na visão de mundo única de cada ator, para alcançar uma verdade profunda e íntima.”

Fundado em 1878, o GITIS é referência mundial em artes cênicas e oferece formação em todas as profissões ligadas ao teatro. São oito faculdades que recebem 1.700 estudantes —russos e estrangeiros, inclusive brasileiros. Atualmente, 150 alunos de outros países estudam na academia, muitos por meio de financiamentos públicos.

“Eles estudam e depois voltam para os países deles, abrem escolas e são bem-sucedidos”, diz Zaslavsky. Na agenda dele há uma visita programada para o Senegal, onde vai conhecer uma escola de balé aberta por uma ex-aluna do GITIS.

A dica do reitor para os candidatos a uma vaga na escola russa é a prática de esportes. Ele explica: ali a competição é grande, são 450 candidatos por vaga e um longo caminho a ser percorrido na trajetória de artista teatral. É preciso ter fôlego.

Ele enxerga na nova geração uma certa falta de conhecimentos, de emoções e de preparação física. Lembra que a profissão de ator não garante nada, mas pode levar ao Festival de Cannes, por exemplo, como foi o caso recente de duas ex-alunas, criadoras do próprio filme.

“É um trabalho muito complicado aguentar essa carga horária das aulas e ficar em cena, no palco. Então, uma boa dica é fazer esporte para ter preparação física”, reforça.

Zaslavsky vê no teatro e no cinema a função de promover esperança e alegria. Afirma, inclusive, que nos períodos de guerra, como a atual entre a Rússia e a Ucrânia, e de catástrofes mundiais, há a descoberta de grandes talentos nas artes, o florescimento de vocações.

O reitor acredita que o teatro e a poesia têm a capacidade de resgatar a humanidade.



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