Do pedido de interdição no interior da Bahia à visita de médicos a uma mansão em Alphaville, passando por acusações de falsidade ideológica e “dinheiro torrado” com viagens de jatinho e compra de helicópteros e diamantes. Esse é o clima em uma parte da família Faresm que vive uma espécie de guerra de gerações.
A história começa em 1952, quando o libanês Abdul Fares muda para o Brasil fugindo da guerra e começa a trabalhar como camelô nas ruas de São Paulo vendendo artigos de cama, mesa e banho. Fares morre em 1986 e deixa quatro filhos: Fábio, Jamel, Adiel e Nasser, que passam a dividir a herança e o controle da rede varejista.
Sob o comando dos filhos de Abdul, a Marabraz dispara e alcança, em 2024, 126 lojas em São Paulo, 120 caminhões e o maior centro de distribuição da América Latina, localizado em Cajamar (SP). A família também amplia os negócios com uma clínica médica e uma holding que administra imóveis.
Fontes ouvidas pela CNN apontam que o dinheiro foi um dos motivos para as brigas começarem entre as gerações. O duelo principal se concentra entre o segundo filho do patriarca libanês, Jamel, e o filho de Jamel, que leva o mesmo nome do avô, Abdul.
Nesta terça-feira (10), Jamel entrou com uma notícia crime contra o próprio filho. Na peça obtida pela CNN, o pai acusa o filho de “torrar” num intervalo de dois anos e meio “em despesas pessoais pelo menos R$ 22,5 milhões com recursos que pertencem às empresas da família, em viagens de jatinho, aquisição de helicópteros, compra de diamantes no valor de milhões de reais para presentear sua noiva, a atriz Marina Ruy Barbos entre outras indulgências”.
O ponto central, no entanto, é uma tentativa de interdição movida pelo filho contra o pai na cidade de Simões Filho, no interior da Bahia – cidade onde ninguém da família vive. O caso foi revelado na coluna de Eliane Trindade na Folha de S. Paulo.
No pedido de interdição, o filho diz que o pai “apresenta diversos problemas de saúde, incluindo transtornos mentais, tentativas de suicídio, depressão profunda, cardiopatia grave, Síndrome de Stiff, dependência química de medicamentos controlados e um quadro de agressividade descontrolada”.
Acrescenta ainda alegando que Jamel “possui histórico de agressões à esposa e já tentou suicídio em três ocasiões, todas presenciadas por familiares”, que “colidiu com veículos mais de dez vezes, acumulando diversos boletins de ocorrência” e que “entre os crimes atribuídos a ele estão a apresentação de receita médica falsa e uma tentativa de homicídio contra policiais militares, que aconteceu na cidade de São Paulo”.
Um dia antes da notícia-crime, na segunda (9), o Ministério Público defendeu que o pedido de interdição fosse suspenso e que Abdul juntasse documentos que comprovassem que ele mora na cidade do interior da Bahia.
No contragolpe do pai ao filho, a notícia crime, Jamel diz que, ao pedir sua interdição, Abdul cometeu “um crime tosco, rudimentar, cujo método revela uma indigência e apoucamento intelectual tão gritantes de seu autor, que Jamel, seu infortunado pai, tem até vergonha de descrevê-lo”. O documento diz ainda que Adbdul gastou R$22,5 milhões “para sustentar seu estilo de vida nababesco, digno de um potentado árabe” ou de sua “vida de califa”.
“Abdul Fares não trabalha e não tem renda própria. Todas as despesas pessoais do herdeiro, mais apropriadas à corte inteira de um sultanato do que a de um indivíduo solteiro, são pagas exclusivamente pelas rendas de aluguel dos imóveis da família Fares que estão alocados naholding LP Administradora”, afirma a peça obtida pela CNN.
Na notícia crime, o pai ainda chama o filho de “galã estroina” e diz que ele tem “vida de falso bilionário”, pedindo que seja aberto inquérito policial para investigar a suposta falsidade ideológica – por ter alegado endereço falso na Bahia -, além de outros crimes. O pai ainda pede que sejam ouvidos o advogado do pedido de interdição, o dono do imóvel em Simões Filho e a noiva de Abdul, Marina Ruy Barbosa.
A CNN tentou contato com os advogados dos de Jamel Fares e Abdul Fares. Watfrido Warde, que defende o pai, não quis se manifestar sobre o assunto. Jailton Conceição Rigaud, que representa o filho, ainda não havia sido localizado até o fechamento desta reportagem.