instabilidade global ameaça o produtor brasileiro


A queda recente nos preços das commodities agrícolas reflete muito mais do que oscilações naturais do mercado: é resultado direto da instabilidade econômica e financeira internacional, alimentada por políticas desprovidas de coerência econômica nos Estados Unidos.

Na tentativa de reafirmar sua supremacia global, o governo norte-americano adota medidas que lembram uma estratégia de “terra arrasada”, em que o poder vale mais do que a racionalidade.

Historicamente, períodos de incerteza geram forte volatilidade: investidores migram para ativos de menor risco, como o ouro e os títulos públicos, e o preço das commodities, dependente da liquidez global, sofre correções severas.

No Brasil, o impacto é imediato e doloroso. Produtores que arrendaram terras em épocas de preços recordes agora enfrentam custos fixos elevados, insumos dolarizados e uma taxa de juros de 15% que encarece ainda mais o crédito rural. O resultado é um aperto financeiro que ameaça transformar operações antes lucrativas em prejuízo.

O risco maior recai sobre produtores arrendatários, que comprometeram margens futuras com contratos firmados nos tempos de bonança. Com a soja, o milho e outras culturas em queda, muitos já veem a próxima safra com apreensão: menos receita, mais dívida e custos crescentes.

A metáfora do sapo na água morna ilustra bem a situação: se não perceber o aquecimento gradual da crise, o produtor corre o risco de ser “cozido” sem reação. É urgente reconhecer os canais de transmissão dessa turbulência global e agir antes que seja tarde.

Entre as medidas necessárias estão a renegociação de arrendamentos, maior uso de instrumentos de hedge para proteção de margens, diversificação produtiva com agregação de valor e pressão por políticas anticíclicas que aliviam o estrangulamento do setor.

A história mostra que crises globais sempre desafiaram os preços das commodities. O que definirá o futuro do agro brasileiro é a capacidade de reagir com inteligência e estratégia, não com a passividade de quem espera a água ferver.

Miguel Daoud

*Miguel Daoud é comentarista de Economia e Política do Canal Rural


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