A redução de impostos de importação de diversos produtos anunciada pelo governo não terá impacto nos preços dos alimentos, pelo menos no curtíssimo prazo.
Sem estabilidade cambial, com dólar na atual cotação e levando em conta a logística da compra externa e a distribuição pelo país, o espaço de redução dos preços pode ser quase nulo.
A lista dos isentos vai de carnes e milho a azeite de oliva, passando pelo açúcar e até pela sardinha.
A primeira pergunta para testar a eficácia das medidas é: vai comprar de onde?
Lá fora, o preço é cotado em dólar, em muitos casos com custo maior do que a produção nacional, como do açúcar, do café e até da carne.
No caso do café, vem a segunda pergunta: onde vai achar?
O choque de oferta do café é mundial, dificilmente um importador brasileiro vai encontrar volume suficiente em bom preço para trazer para cá.
Segundo informações do próprio governo, a compra externa de café em janeiro deste ano foi 0,7% maior do que no mesmo mês de 2024, com preço 19,1% maior. A participação nas importações totais do país foi de 0,0004%.
O Brasil nunca importou açúcar, como disse a jornalistas o presidente da UNICA, organização dos produtores de açúcar e etanol, Evandro Gussi.
Somos um dos maiores produtores de açúcar do mundo, com custo abaixo da média global e muita competitividade. Novamente, a conta entre achar o produto lá fora, fazer toda operação para trazer e distribuir, não valendo milagre, dificilmente vai baixar os preços para o consumidor brasileiro.
Do anúncio feito pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, só a possível redução de ICMS dos produtos da cesta básica que ainda são tributados em alguns estados pode realmente baixar os preços.
Já vimos esse efeito com combustíveis, a um custo enorme para as contas públicas dos estados e, depois, do Tesouro Nacional, que precisou repor as perdas.
Há uma terceira medida de caráter eleitoreiro que pareceu mais folclórica do que econômica.
O governo quer lançar um Selo Empresa Amiga do Consumidor. A ideia é fazer publicidade do que tem de preço baixo no mercado e estimular a concorrência…
A reticência é sinal de que há pouco a se dizer sobre o que isso pode mudar o custo de vida do brasileiro.
Peso da alta dos preços dos alimentos é ainda maior para baixa renda