O PIB brasileiro de 2024 conta duas histórias. E infelizmente não é aquela história tradicional que começa com desafios, mas acaba com final feliz.
O ano como um todo foi muito bom, o melhor desde 2021, com crescimento de 3,4% e investimentos subindo uns bastante respeitáveis 7,3%.
Mas houve forte deterioração ao longo do ano.
Na primeira metade de 2024,o crescimento anualizado foi de 4,7%, mas caiu para 1,8% no segundo semestre.
O crescimento do terceiro para o quarto semestre foi de somente 0,2% – ou 0,7% anualizado – mas se retirar o crescimento dos estoques, houve de fato uma queda de 0,8%, segundo cálculos do UBS.
Por que houve essa parada súbita?
Alguns comentários apontam o dedo à retomada da alta de juros pelo Banco Central em setembro, mas, como podemos ver nos números trimestrais, a desaceleração já estava em curso.
Acredito que dois outros culpados podem ser apontados.
Primeiro, houve desaceleração no crescimento das transferências governamentais, e efeitos de injeções pontuais, como o pagamento de precatórios, acabam com o tempo.
Segundo, no final do ano houve forte aumento de volatilidade nos mercados como um todo, especialmente no quarto trimestre.
Enquanto isso em um primeiro momento deve impactar mais os níveis de investimento das empresas, ela veio em um momento em que o consumidor já está bastante endividado, e não por acaso o consumo caiu 1% durante o trimestre final do ano.
Apesar da recente melhora nos mercados neste início de ano, ao mesmo tempo com as devidas defasagens os efeitos negativos do aperto monetário serão sentidos.
As expectativas de crescimento para 2025, hoje em 2%, devem começar a migrar para 1,5%.
O que fará o governo e o Banco Central?
Bom, do lado do governo já sabemos: mais estímulos, como as recentes mudanças nas regras de acesso ao FGTS e a expansão do crédito consignado privado.
Isso enquanto o Banco Central continua a subir a Selic.
Voltamos ao bastante conhecido “um pé no acelerador, outro no freio”.
O ambiente internacional positivo permite, por ora, essa contradição sem muita reação do mercado. Mas apostar que vai ficar assim até 2026 é, no mínimo, ser bastante imprudente.