Não é de hoje que a plaquete tem uma função literária simples: publicar textos breves em formato experimental para circular de mão em mão. Popularizada em diversos momentos da literatura, ela volta a ser interessante para editores e escritores pela sua versatilidade.
“As plaquetes são uma ação democrática, foram criadas como possibilidade de imprimir histórias de maneira mais econômica. O tamanho reduzido também é intencional, porque facilita a distribuição”, diz Martha Ribas, editora e livreira.
No comando do selo Janela + Mapa Lab, ela publica a segunda leva de plaquetes do projeto Aqui + Agora, com textos de Ruy Castro, Eliana Alves Cruz, Luiz Antônio Simas, Heloisa Seixas, Ieda Magri, entre outros. Os 21 títulos lançados contemplam ainda estreias promissoras, como as de Olívia Mendonça e Priscila Sztejnman. “Os grandes autores abrem caminhos para os novos serem lidos. É animador enxergar essa ideia do coletivo e misturar todo mundo.”
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A liberdade do livreto de poucas páginas atrai também escritores, que podem apostar em textos pontuais sem a necessidade de formatar um livro mais robusto.
“É uma opção editorial, que permite ter um produto perfeitamente satisfatório, com um conteúdo interessante, em 32 páginas. É como lançar um single sem a necessidade de ter um disco inteiro”, conta Ruy Castro, colunista da Folha, que estará na Janela Livraria neste sábado (14), às 11h, com sua plaquete.
“O Fogo, a Roda e a Palavra” reúne seus discursos de posse na Academia Brasileira de Letras em 2023 e de agradecimento no Prêmio Machado de Assis pelo conjunto da obra no ano anterior.
Ao lado dele, Heloisa Seixas divulgará “O Lugar Escuro”, peça de teatro baseada no livro homônimo lançado em 2007 pelo selo Objetiva, da Companhia das Letras. Na história, três gerações de mulheres se entrelaçam a partir do Alzheimer.
“O livro e a peça tiveram carreiras muito bonitas. Quando a Martha fez a proposta da plaquete, logo pensei nesse texto”, diz. “Ter ele impresso [nesse formato] facilita outras companhias que queiram montar ‘O Lugar Escuro’.”
Castro aponta ainda outro benefício que uma plaquete oferece para o autor. “Você pensa que o Manuel Bandeira podia lançar um livro por uma editora grande? Não, ele próprio que pagava. E como não dava para gastar muito, a plaquete com 20 poemas era o suficiente. A mesma coisa aconteceu com grandes ensaístas brasileiros, não é fácil encontrar editoras dispostas a vender ensaios. Num formato de 30 ou 40 páginas era possível dar o recado.”
A editora Fósforo também tem movimentado o cenário com o seu Círculo de Poemas, vencedor do prêmio Aficionado na Feira de Frankfurt, em outubro passado. A caixa de assinatura, que nasceu de uma parceria com a antiga Luna Parque Edições, está no seu terceiro ano e propôs a plaquete como um complemento ao livro de poesia editado para cada mês.
“No começo, a gente tinha vontade de oferecer algum benefício para os assinantes, mas não queríamos fazer brindes descartáveis. A plaquete virou um incentivo: se você assinar, ganha um poema exclusivo, encomendado por nós”, diz a diretora editorial, Rita Mattar.
Depois de alguns meses, elas foram ganhando autonomia até colocarem autores na Flip, logo no final do primeiro ano de projeto. Luciany Aparecida foi um desses casos, que, na época, tinha um único livro em seu nome, a plaquete “Macala” —antes, ela publicava usando pseudônimo. “Por conta disso, tivemos que flexibilizar e passamos a vender as plaquetes nas livrarias, avulsas aos livros do circuito.”
Tarso de Melo, coordenador da coleção desde outubro de 2023, acredita que o Círculo é uma porta de entrada para o universo da poesia, e a plaquete sua maior aliada. “Publicamos grandes nomes que têm contratos em outras editoras maiores, como a Angélica Freitas e Bruna Beber”, diz. “Uma das nossas preocupações diárias é formação e ampliação de público, por isso queremos conquistar novos leitores.”
Para o ano que vem, eles pretendem trabalhar as plaquetes em escolas e organizar oficinas com professores. “Ela tem um potencial enorme para o aprendizado. Você abre, desmonta, remonta, interage”, adianta Mattar. “O desafio que se mantém é trazer novos assinantes para que o projeto seja sustentável a longo prazo.”
Em ambas as editoras, o projeto gráfico é ponto de atenção. Capas bem feitas e estrutura sensorial dão uma outra dimensão para a experiência de leitura. O visual similar entre os títulos da mesma coleção ainda tornam as plaquetes objetos colecionáveis e atraem jovens leitores. “A plaquete é um exercício laboratorial, uma plataforma que nos permite testar como ela própria vai dar conta de sustentar o texto”, diz Martha Ribas.
Ruy Castro e Heloisa Seixas, escritores com carreiras longas, enxergam a importância do formato para também renovar a cena. “A diversidade de gêneros [literários] é bem-vinda, porque abre portas para pessoas que estão tateando o mercado ou possuem obras pequenas. É um jeito de chegar ao público de maneira eficiente”, afirma Seixas.
“Quem sabe, com ajuda das plaquetes, surge uma nova geração de escritores”, diz Castro.