Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – O Ibovespa fechou em queda nesta sexta-feira, com o recuo de commodities pressionando as blue chips Vale e Petrobras, em pregão marcado por cautela antes do Carnaval e com alta da Eletrobras após acordo que abriu espaço para a União no conselho da empresa e a desobriga de investir em Angra 3.
Índice de referência do mercado acionário brasileiro, o Ibovespa caiu 1,6%, a 122.799,09 pontos, tendo marcado 122.658,78 pontos na mínima e 124.916,19 pontos na máxima do dia. Com tal desempenho, acumulou queda de 3,41% na semana e de 2,64% no mês. O volume financeiro no pregão somou R$36,19 bilhões.
A bolsa estará fechada no começo da próxima semana, reabrindo apenas na quarta-feira, às 13h, o que fez com que muitos agentes preferissem reduzir a exposição a ações brasileiras, dado que Wall Street funcionará normalmente e eventos externos têm adicionado volatilidade nos negócios.
Nesta sexta-feira, o S&P 500, uma das referências do mercado acionário dos norte-americano, fechou em alta de 1,59%, mas antes renovou mínima do dia com queda de 0,4%, na esteira do encontro tenso entre o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, e o presidente dos EUA, Donald Trump, na Casa Branca.
A assinatura prevista de um acordo de compartilhamento de receitas de minerais acabou não acontecendo após o bate-boca público entre os dois líderes. Trump ameaçou retirar o apoio dos EUA ao país. Um pouco depois, em um post no X, Zelenskiy, agradeceu aos EUA e a Trump pelo apoio.
Mais cedo, a agenda dos EUA trouxera dados mostrando queda inesperada nos gastos dos consumidores no primeiro mês do ano, enquanto o índice de preços de despesas com consumo pessoal (PCE, na sigla em inglês), medida preferida de inflação do Federal Reserve, mostrou resiliência, com alta de 0,3%.
De acordo com o economista-chefe da Nomad, Danilo Igliori, os números indicam a retomada da desaceleração do cenário inflacionário, mas ainda não são significativamente suficientes para atestar que, fundamentalmente, há suporte para que o Fed mude de postura e abandone a cautela para cortar juros.
O noticiário de Brasília também repercutiu nos negócios, em particular a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de indicar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, para ocupar a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência no lugar de Alexandre Padilha, que foi deslocado para o Ministério da Saúde.
Em meio a preocupações com o quadro fiscal e a inflação no país, a notícia referendou o viés negativo nos negócios, uma vez que Gleisi já criticou diversas vezes medidas de corte de gastos e a política monetária restritiva do Banco Central, bem como tem embates constantes com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Há também preocupação quando à articulação política, uma vez que ela não tem uma boa relação com o centrão, hoje maior parte da base de Lula e com quem terá que negociar as pautas do governo no Congresso.
O forte avanço nas taxas dos DI, em parte guiado por tais receios, reforçou as vendas na bolsa paulista, principalmente ações sensíveis a juros.
As negociações na B3 ainda tiveram como pano de fundo o rebalanceamento de índices da MSCI no fechamento. Cosan, CSN, Hapvida, Hypera, Inter&Co e Stone&Co foram excluídas da nova versão do Global Standard Index.
DESTAQUES
– ELETROBRAS ON avançou 2,6% após acordo com a União para encerrar a ação no Supremo Tribunal Federal (STF) na qual o governo federal questionava seu limite de poder de voto na companhia elétrica. Pelo acordo fechado, o governo passará a ter representatividade em conselhos da elétrica, enquanto a companhia deixará de ter obrigação de aportar recursos bilionários para a construção da usina nuclear de Angra 3 caso o projeto siga adiante.
– VALE ON recuou 2,04%, contaminada pelo declínio dos futuros do minério de ferro na China, onde o contrato mais negociado na Bolsa de Mercadorias de Dalian fechou em queda de 0,74%, para 799,5 iuanes (US$109,72) a tonelada. Investidores também continuam temerosos sobre os potenciais reflexos da política de tarifas do presidente dos EUA, Donald Trump.
– PETROBRAS PN fechou negociada em baixa de 1,86%, com agentes financeiros ainda digerindo os números divulgados pela companhia nessa semana, incluindo resultado trimestral, desembolsos com investimentos em 2024 e dividendos. No exterior, o barril de petróleo do tipo Brent, usado como referência pela estatal, fechou em queda, também pesando nos negócios. PETROBRAS ON, por sua vez, terminou com decréscimo de 0,48%.
– ITAÚ UNIBANCO PN fechou em queda de 2,44%, com os bancos também afetados pelo viés mais vendedor no pregão, com BANCO DO BRASIL ON perdendo 2,32%, BRADESCO PN caindo 2,01% e SANTANDER BRASIL UNIT cedendo 4,11%.
– LOCALIZA ON fechou em alta de 1,81%, após a empresa de aluguel de carros e gestão de frotas publicar na noite da véspera que teve lucro líquido consolidado de R$837 milhões no quarto trimestre, alta de 18,7% ante o mesmo período de 2023. O grupo também anunciou manutenção da previsão de depreciação bruta anualizada para o primeiro trimestre de R$6.300 a R$7.300 por carro para a divisão de aluguel de R$6.800 a R$7.800 para gestão de frotas. O conselho de administração ainda aprovou R$1,68 bilhão em juros sobre capital próprio.
– MARFRIG ON desabou 10,15%, após três altas seguidas, sendo que apenas na véspera fechou com um salto de 8,90%. A companhia divulgou na quarta-feira à noite balanço e anunciou programa de recompra de ações. Na véspera, após o fechamento, comunicou que acionistas controladores — MMS Participações Ltda, Marcos Antônio Molina dos Santos e Marcia Aparecida Pascoal Marçal dos Santos — aumentaram a participação para 72,07% das ações da companhia.
– BRASKEM PNA cedeu 7,11%, ampliando a sequência de quedas para nove pregões. Na madrugada de quinta-feira, a petroquímica divulgou prejuízo de US$967 milhões no quarto trimestre, três vezes acima do resultado negativo apurado no mesmo período de 2023. Em entrevista a jornalistas na véspera, o presidente da empresa disse que não vê uma recuperação desse ciclo de baixa da indústria petroquímica global nos próximos cinco anos e que por isso a empresa começou a se movimentar para enfrentar tal cenário.
– TOTVS ON recuou 2,37% após anunciar decisão de se retirar do processo para a aquisição da empresa de software Linx, controlada pela StoneCo. A companhia havia demonstrado interesse na compra da Linx no ano passado e informou repetidas vezes que avaliava uma proposta pelo ativo. A ação vinha de três altas seguidas, período em que acumulou uma valorização de mais de 4%.
– HIDROVIAS DO BRASIL, que não faz parte do Ibovespa, subiu 2,59%, em meio ao anúncio de acordo para vender suas operações de cabotagem para a empresa de navegação Norsul.
O valor do negócio é de R$715 milhões, incluindo R$521 milhões em dívidas. O pagamento será à vista na conclusão da transação. Segundo o a companhia, a venda das operações adquiridas em 2016 deve ajudar na redução da alavancagem financeira.
(Por Paula Arend Laier; Edição de Pedro Fonseca)