Juros altos impõem cautela com o cartão de crédito. Saiba como usá-lo


Em meio à alta da taxa básica de juros do país, a Selic, surge a preocupação com o uso de cartões de crédito e financiamentos em geral. Isso porque os bancos e instituições financeiras utilizam a taxa Selic como base para definir os juros cobrados.

A seguir, o Metrópoles explica quais os impactos provocados pela alta dos juros nas operações feitas com cartões de crédito e apresenta hábitos de uso consciente dos cartões para evitar endividamento e inadimplência.

No momento, o Brasil tem taxa Selic de 13,25% ao ano e o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) adiantou uma nova alta de pelo menos 1 ponto percentual na próxima reunião, realizada nos dias 18 e 19 de março.

Ao elevar a Selic para conter a inflação, a consequência esperada é a redução do consumo e dos investimentos no país. O crédito fica mais caro, e a atividade econômica tende a desaquecer, provocando queda de preços para os consumidores e produtores.


Entenda a situação dos juros no Brasil

  • A taxa Selic é o principal instrumento de controle da inflação, que ficou em 4,83% em 2024 — acima do teto da meta.
  • No ano passado, a taxa de juros fechou em 12,25% ao ano – voltando ao mesmo percentual de novembro de 2023.
  • A expectativa é de novas altas nos juros ainda no primeiro trimestre, com taxa próxima a 15% ao ano.
  • O mercado financeiro estima que a Selic ficará em 15% ao ano até o fim de 2025, segundo o relatório Focus.
  • Projeções mais recentes mostram que o mercado desacredita em um cenário em que a taxa de juros volte a ficar abaixo de dois dígitos durante o governo Lula (PT) e do mandato de Gabriel Galípolo à frente do BC.

Como a Selic influencia os juros dos cartões

Para ilustrar de forma simplificada, os bancos olham a taxa Selic como base para realizar cálculos de suas respectivas taxas de juros, aplicadas em diferentes modalidades de empréstimos (cheque especial, financiamento e cartão de crédito).

Assim, com a Selic em um patamar mais elevado, as taxas dos cartões de crédito tendem a aumentar. No entanto, o crescimento não necessariamente ocorre na mesma proporção, destaca o economista Igor Lucena, CEO da Amero Consulting.

Segundo Lucena, além da Selic, a camada das taxas de juros do cartão de crédito leva em consideração: a inadimplência, margens de lucro dos operadores e outros fatores relacionados à não recuperação de crédito.

Levantamento do Banco Central sobre taxa de juros no Brasil mostra que a menor taxa anual cobrada pelos bancos no cartão de crédito é de 67%, enquanto a maior é de 995%. Mas, o que isso significa na prática?

Imagine a seguinte situação: você passa R$ 100 no cartão de crédito, mas não consegue pagá-lo no fim do mês e deixa essa dívida acumular. Considerando a menor taxa de juros do rotativo, essa conta passaria de R$ 100 para R$ 167 no fim do ano. Já com a maior taxa de juros, os R$ 100 iniciais chegarão a R$ 1 mil no mesmo período.

A professora de economia Cristina Helena de Mello, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que os bancos cobram juros menores de empréstimos com garantia de segurança, como compra de imóveis e carros.

Mello ressalta que, como as modalidades do cheque especial e do cartão de crédito não oferecem muitas garantias, o risco fica maior para o banco realizar esses empréstimos e, por isso, “eles cobram juros maiores para o cartão de crédito”.

O uso de cartões de crédito e a inadimplência no Brasil

Em 2024, as compras feitas em cartões de crédito, débito e pré-pagos cresceram 10,9% em relação a 2023. Só no ano passado as transações somaram R$ 4,1 trilhões, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços (Abecs).

No ano passado, as compras com cartão de crédito totalizaram R$ 2,8 trilhões — o equivalente a uma alta de 14,6%. Para 2025, o setor estima um crescimento na faixa entre 9% e 11% (ou movimentação de R$ 4,5 trilhões) no uso de cartões.

É consenso entre os economistas que o uso do cartão de crédito tende a aumentar, mesmo com os juros nas alturas e avanço dos preços de bens e serviços (a inflação). O principal motivo seria conter despesas.

Para a professora da PUC, o número de compras feitas com o cartão de crédito deve aumentar porque as “famílias estão precisando criar estratégias para fazer frente às suas despesas, porque os preços subiram e as suas rendas não acompanharam”.

Mello pondera que as famílias acreditam que o cartão de crédito é “um recurso que facilita a vida” e, por isso, não fazem controle das despesas do mês seguinte. “Elas [as famílias] não olham para taxa de juros e muitas vezes deixam atrasar o cartão de crédito em vez de atrasar outras contas com juros menores”, acrescenta a professora.

Lucena, por sua vez, vê a chance de uma eventual queda no uso dos cartões na aquisição de bens de consumo mais caros, em que a taxa de juros é embutida. No entanto, ele avalia que muitas pessoas continuarão usando o cartão para manter “certos padrões de consumo que não querem perder , recorrendo ao parcelamento”.

O contador Marcello Marin entende que a população pode ficar receosa em usar cartões com a contínua alta dos juros, mas reforça que o “vilão” não é o cartão de crédito, e sim a falta de planejamento para pagar as contas.

Adriano Giacomini, professor de economia da Faculdade ESEG, do Grupo Etapa, aconselha a evitar dívidas com juros no cartão de crédito porque a tendência é que as taxas sigam elevadas.

Como forma de evitar ficar no vermelho, a estudante de direito Raine Tolentino Rocha relatou ao Metrópoles que tem o hábito de não gastar acima da própria renda mensal. Além disso, ela não divide as compras no cartão de crédito em várias parcelas.


Dicas para o uso consciente do cartão de crédito

  • Antes de mais nada, reconhecer que o cartão de crédito é recurso de última instância para fazer pagamentos.
  • Cartão de crédito não é status, mas sim o endividamento.
  • Conhecer a taxa de juros do próprio cartão.
  • Lembrar que endividamento no cartão de crédito com o pagamento de juros é uma situação emergencial.
  • Nunca gastar mais do que 30% da renda e controlar os parcelamentos.
  • Manter um controle rigoroso das compras feitas no cartão de crédito, para saber quanto deve pagar no mês seguinte.
  • Priorizar o pagamento integral da fatura para não cair no crédito rotativo.
  • Evitar parcelamentos com juros embutidos.
  • Usar o cartão apenas em compras planejadas e compatíveis com a renda disponível.
  • Buscar alternativas de crédito com taxas menores (empréstimos consignados ou financiamentos com juros mais baixos).
  • Já está endividado? Procure o banco para negociar os débitos.

 



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