‘Máquina do Tempo’ faz escolha estética que por vezes atrapalha narrativa


Em “Máquina do Tempo“, duas irmãs inglesas, Tomasina e Martha, se tornam órfãs ainda na infância e devem crescer cuidando uma da outra. Sua vida gira em torno da máquina que herdaram do pai, onde podem ver imagens e escutar palavras do passado.

Nesse ponto, o filme já anuncia o que será: imagens caseiras, em branco e preto, envelhecidas e pouco iluminadas. Não deixa de ser uma boa surpresa. O filme de Andrew Legge já anuncia ali a máquina do tempo, que será seu assunto central, pois as moças se encontram nos anos 1940.

É mais ou menos quando elas descobrem outra virtude da máquina fabulosa criada pelo pai, a capacidade de visualizar imagens do futuro. Desde então as jovens, que se denominam Thom e Mars, estão envolvidas com o que pode haver de mais fascinante: o acesso ao que ainda não aconteceu, mas acontecerá.

Como a Segunda Guerra está começando e a Inglaterra está sob forte bombardeio, as irmãs pensam em como ajudar o próprio país nessa situação dramática. Vendo as notícias do dia seguinte, conseguem descobrir onde aconteceria o próximo ataque dos aviões alemães.

Conseguem, com isso, mudar o futuro e salvar milhares de vidas inglesas. De quebra, a aviação nazista sofre avarias enormes. A reação a isso é de euforia das irmãs. Elas não calculam, no entanto, que mudar o futuro equivale a provocar a desordem cósmica, o caos do tempo. É onde as máquinas do tempo costumam emperrar.

Não é diferente com a de Thom e Mars. Antes que isso aconteça, no entanto, elas serão localizadas por algum serviço secreto britânico, elogiadas, promovidas. De resto, a mais romântica delas, Mars, começará a namorar o oficial que conseguiu localizar o ponto de emissão de suas mensagens.

Mas as coisas começam a se transformar na guerra. Thom comete um erro ao afundar um transatlântico dos Estados Unidos. Os americanos voltam-se contra os britânicos. Ou seja, a guerra muda completamente, os nazistas ameaçam seriamente os britânicos. Surge até um primeiro-ministro fascista, Oliver Mosley. A vida das irmãs muda tanto quanto a de seu país, até mais.

O filme sugere ao menos duas questões: a primeira, estética, diz respeito ao procedimento do uso de filmes velhos, amadores e um tanto escuros. Um bom achado, mas que ao longo do filme se torna apenas isso: um achado. Por vezes eficaz, mas a maior parte do tempo parece mesmo um entrave.

Quando se refere a uma invasão fascista na Inglaterra, Andrew Legge pode estar pensando no passado e localmente —o fantasma da tomada de poder pelo fascismo no país que mais bravamente o combateu— ou no presente e de forma mais universal —a ameaça generalizada de tomada de poder por governos autoritários, talvez fascistas.

Quanto ao destino de Mars e Thom, será cheio de aventuras, entre outras a ameaça de ir para a forca ou a felicidade amorosa. Assim como a investigação do futuro, o destino das heroínas se torna livre, isto é, sempre fictício.

No fim, como mensagem, o filme parece concluir que não é a melhor coisa conhecer o futuro. Melhor deixar que ele venha como vier.



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