No acumulado do ano até fevereiro, os saques da caderneta de poupança já superam os depósitos em R$ 34,2 bilhões. Esse número é mais do que o dobro do registrado ao longo de 2024 todo.
Dados divulgados nesta quarta-feira (12) pelo Banco Central (BC) mostraram que a caderneta de poupança registrou em fevereiro uma saída líquida de R$ 8 bilhões.
O valor – resultado de R$ 332 bilhões em depósitos e R$ 340 bilhões em retiradas – representa uma alta de 109,4% em comparação a fevereiro do ano passado, quando a soma ficou em R$ 3,8 bilhões.
O ano de 2024 fecha, por enquanto, a maior sequência de movimentações negativas desde 2001.
O cenário é um alerta para o setor imobiliário, que usa os recursos da poupança para conceder financiamentos.
“A poupança é usada como um fundo de reserva de capital disponível. Com a diminuição desse fundo, existe uma restrição na oferta de um dinheiro que, de certa forma, é subsidiado – ou seja, mais barato – para financiar o desenvolvimento da construção civil e a compra do imóvel, seja ele primário ou secundário”, aponta Fabrício Schveitzer, conselheiro de negócios do Sienge, ecossistema da Indústria da Construção Civil.
“A gente começa a ver as instituições financeiras tendo que fazer um esforço de alocação de outros tipos de capital para financiar o imobiliário”, pontua.
O movimento se dá em um período de alta na taxa básica de juros do país, a Selic, que atingiu 13,25% em janeiro, e deve chegar a 14,25% agora em março.
Ian Lopes, economista da Valor Investimentos, explica que a poupança perde atratividade ante juros elevados, uma vez que títulos como CDBs, LCIs, LCAs e até o próprio Tesouro Direto dão maiores retornos.
“Se esse dinheiro está saindo da poupança, está indo para outro tipo de aplicação e pode ir para outra plataforma. O banco perde custódia e receita como consequência”, indica Lopes.
“Quando se observa o setor de construção civil, há menos recurso para pegar crédito com poupança menor. Com menos poupança, pega outros financiamentos mais caros”, conclui.
Como uma parte da população não tem acesso a esse dinheiro — que acaba sendo mais barato — e começa a ter de recorrer a outros créditos, o cenário se desdobra em duas consequências, segundo Schveitzer.
A primeira é o dos próprios bancos tendo de alocar dinheiro de tesouraria – “mais caro” –, o que impacta o resultado financeiro dos empreendimentos, bem como o crescimento do mercado de capitais, dos fundos de investimentos e dos instrumentos alocados (FIDC, CRI), que são captados a valor de mercado para financiar a construção.
O outro efeito que se observa — e que já está presente — é de um mercado imobiliário bastante dinâmico na base, mas que demonstra sinais de fadiga.
“No final de tudo isso, temos uma diminuição do recurso da poupança, portanto, uma necessidade de maior entrada de recursos do mercado financeiro ou de investidores e, por conseguinte, trata-se de um dinheiro mais caro. Isso afetará diretamente a margem dos empreendimentos”, pontua o especialista do setor imobiliário.