“Um Terror de Parentes”, produção original da Max disponível a partir desta quinta-feira na plataforma, tem um título difícil de ser associado a um filme com a proposta de misturar comédia e terror. Mas “paternidade” —tradução literal do título em inglês, “The Parenting”— resume o que se vê na tela: pais e filhos tentando se entender.
“Eu concordo que é um filme para falar de relações entre pais e filhos, não há dúvida”, diz o veterano Dean Norris, conhecido como o Hank Schrader da badalada série “Breaking Bad“. “Mas a grande ideia é jogar essas discussões numa situação-limite”, prossegue o ator, que integra o elenco da nova produção.
“Situação-limite” é pouco para definir o azar do casal homoafetivo Josh e Rohan, respectivamente interpretados pelos novatos Brandon Flynn e Nik Dodani. Planejando casamento, eles decidem chamar seus pais para se conhecerem em um final de semana numa charmosa casa de campo. Charmosa, mas assombrada por um poltergeist há 400 anos.
O filme tem uma curta sequência inicial, que se passa há 40 anos, na qual uma mãe e seus dois filhos adolescentes são mortos, ou, pelo menos, capturados por uma força maligna. Depois, o terror dá trégua de 30 minutos para mostrar a chegada dos pais de Josh e Rohan à casa alugada. Aí entram em cena figuras famosas que todos os consumidores de streaming vão reconhecer.
Como os pais de Josh estão Norris e Lisa Kudrow, a Phoebe de “Friends“, enquanto os pais de Rohan aparecem na pele de Brian Cox, o patriarca de “Succession“, e Edie Falco, a primeira-dama de “Sopranos“. É um time de veteranos que logo mostra seu talento na imediata oposição entre aceitação plena de Rohan pela mãe hippie de Josh e a evidente má vontade da mãe de Rohan diante da ideia do casamento.
Os diálogos engraçados têm a mão de Kent Sublette, um dos melhores roteiristas da nova geração do “Saturday Night Live“. E ele injeta mais humor ainda com a chegada de uma personagem importante, Sara, a melhor amiga dos noivos, papel da sul-coreana Vivian Bang.
“Cada trio de pai, mãe e filho precisa apresentar uma dinâmica pré-existente de relacionamento. E o filme mostra como elas se opõem. Mas aí Sara chega, justamente para quebrar isso”, analisa a atriz. “Sara vem ser chamada para provocar todo mundo, tem um humor grosseiro que não perdoa ninguém.”
A irritação provocada por Sara logo deixa de ser o principal problema dos hóspedes, porque o verdadeiro dono da casa resolve aparecer. O pai de Rohan fica possuído pelo poltergeist e o terror se estabelece. Para piorar, os fantasmas (ou seriam zumbis?) da mãe e dos garotos atacados há quatro décadas surgem aqui e ali, para mais sustos.
Os atores admitem que algumas cenas são bem assustadoras, contrastando com o humor verbal das conversas familiares. “Eu nunca tinha feito filme de horror e realmente fiquei surpresa”, conta Vivian Bang. “Eu acho que comédias que pegam elementos do terror precisam ter cenas que realmente perturbem quem está assistindo.”
Assim, “Um Terror de Parentes” está longe daquele terror quase infantil de um “Beetlejuice“. Norris acha que um dos trunfos do filme é esse.
“Surpreende que às vezes os personagens comecem a discutir a relação, abrindo seu coração um para outro, enquanto no quarto ao lado está preso um personagem possuído pelo fantasma, louco para sair e matar todo mundo.”
Para criar esse conflito que Norris define como enfrentar ao mesmo tempo os demônios internos de cada um e o demônio externo que ameaça a todos, o elenco parece estar se divertindo bastante no set. “As boas comédias às vezes deixam transparecer esse clima. É fundamental rir do que estamos fazendo”, afirma Bang.
Norris acredita que a presença de gente tão experiente em séries facilitou muito. “A gente trabalhava o dia inteiro e depois fazia questão de estar junto para jantar. Nunca tive um ambiente tão divertido de trabalho. E eu, Lisa e Parker dormíamos na mesma casa, estávamos juntos 24 horas por dia”, conta Norris, se referindo à comediante Parker Posey, outra veterana, que interpreta a mística corretora de imóveis que aluga a casa aos rapazes.
Dean Norris aproveita a entrevista para iniciar uma campanha. “Eu voltaria a esse personagem, com certeza.” Talvez uma sequência com o casamento dos rapazes? “Sim, talvez com eles adotando um bebê. Seria muito bom!”
