Por Steve Holland e Nandita Bose e Jeff Mason
WASHINGTON (Reuters) – O encontro entre os presidentes da Ucrânia, Volodymyr Zelenskiy, e dos Estados Unidos, Donald Trump, terminou em desastre nesta sexta-feira, depois de ambos terem tido uma discussão acalorada diante da imprensa mundial, em plena Casa Branca, devido à guerra com a Rússia.
Zelenskiy pediu o encontro na Casa Branca para tentar convencer os EUA a não ficarem do lado do presidente russo, Vladimir Putin, que ordenou a invasão da Ucrânia há três anos.
Em vez disso, Trump e o vice-presidente norte-americano, JD Vance, atacaram o líder ucraniano, dizendo que ele foi desrespeitoso, realçando como a mudança de governo em Washington tem minado as tentativas de Kiev de manter o apoio ocidental para a guerra.
Trump ficou do lado de Putin desde que assumiu o cargo de presidente, chocando os tradicionais aliados europeus e deixando a Ucrânia crescentemente vulnerável. A discussão desta sexta-feira foi, até agora, a demonstração mais pública disso.
Vance ressaltava a necessidade de diplomacia para encerrar o maior conflito na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, enquanto Zelenskiy, com os braços cruzados, respondia que Putin não era confiável em quaisquer negociações, lembrando que o vice nunca visitou a Ucrânia.
Trump rapidamente foi à sua rede social, Truth Social, acusar Zelenskiy de desrespeitar os EUA.
“Resolvi que o presidente Zelenskyy não está pronto para a paz se a América se envolver”, escreveu, usando uma forma alternativa de grafar o nome do colega. “Ele pode voltar quando estiver pronto para a paz.”
Zelenskiy falou durante o encontro em inglês. Não tendo o inglês como idioma nativo, o prosseguimento da discussão acabou afogado pelas palavras de Trump e Vance.
“Você não está em uma boa posição. Você não tem cartas na manga agora. Conosco, você começa a ter cartas na manga”, disse Trump.
“Eu não estou jogando baralho. Sou muito sério, sr. presidente”, respondeu o ucraniano.
“Você está jogando baralho. Você está apostando com as vidas de milhões de pessoas. Você está apostando com a Terceira Guerra Mundial”, continuou Trump.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev pareceu gostar do espetáculo, escrevendo no Telegram que Trump falou a “verdade” a Zelenskiy, dizendo que o líder ucraniano recebeu uma “reprimenda brutal no Salão Oval”.
SAÍDA ANTECIPADA
Após a discussão, Zelenskiy deixou a Casa Branca sem assinar o acordo entre Ucrânia e Estados Unidos sobre a exploração conjunta de recursos naturais.
O confronto também mina os recentes esforços de líderes europeus de convencer Trump a dar garantias de segurança à Ucrânia, mesmo que ele tenha se recusado a deslocar soldados norte-americanos para a Ucrânia para manter a paz.
Essas garantias são vistas como cruciais para dissuadir a Rússia de cometer um ato de agressão no futuro.
“As pessoas estão morrendo, você está ficando sem soldados”, afirmou Trump a Zelenskiy durante o espetaculoso bate-boca diante dos repórteres no Salão Oval.
Trump ameaçou retirar o apoio dos EUA da Ucrânia.
“Ou você faz o acordo, ou estamos fora. E, se sairmos fora, aí você luta sozinho. Eu não acho que vai ser muito bonito”, afirmou Trump a Zelenskiy. “Assim que assinarmos o acordo, você estará em posição muito melhor. Mas você não está sendo nem um pouco grato, e isso não é legal. Serei honesto: não é legal.”
Zelenskiy desafiou abertamente Trump por causa de sua abordagem com Putin, pedindo para que ele “não estabelecesse compromissos com um assassino”.
Trump afirmou que Putin quer chegar a um acordo. Vance também disse que foi desrespeitoso de Zelenskiy ir ao Salão Oval para contestar a posição do republicano, ganhando a concordância de Trump.
“Você não disse obrigado”, argumentou Vance. O presidente ucraniano, levantando a voz, respondeu: “Eu disse obrigado muitas vezes ao povo norte-americano”.
Zelenskiy, que recebeu bilhões de dólares em armas dos EUA e apoio moral do governo Biden para lutar contra a Rússia, tem em Trump uma atitude nitidamente diferente. O norte-americano quer encerrar rapidamente a guerra que já dura três anos, melhorar os laços com a Rússia e recuperar o dinheiro gasto para apoiar a Ucrânia.
A discussão fez com que líderes europeus oferecessem apoio a Kiev. O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a Rússia é a agressora, enquanto que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, disse: “Ucrânia, a Espanha está ao seu lado”.
As negociações em Washington eram vistas como uma vitória diplomática para Zelenskiy, que falou repetidamente sobre a importância de se encontrar com Trump pessoalmente antes que o presidente dos EUA conversasse com Putin.
Kiev esperava que o acordo sobre minerais incentivasse Trump a apoiar a Ucrânia na guerra e, potencialmente, até mesmo obtivesse a simpatia dos republicanos no Congresso para a aprovação de uma nova rodada de auxílio.
A Ucrânia expandiu rapidamente sua produção na indústria de Defesa, mas continua muito dependente de assistência militar estrangeira, ao mesmo tempo em que luta para repor mão de obra enquanto luta contra um inimigo muito maior.
Embora a Ucrânia tenha repelido a invasão russa nos arredores de Kiev e recapturado partes do território em 2022, a Rússia ainda controla cerca de um quinto do território ucraniano e vem lentamente ganhando terreno desde a realização de uma fracassada contraofensiva ucraniana em 2023.
As tropas de Kiev conquistaram um pedaço de terra na região de Kursk, no oeste da Rússia, após uma incursão em 2024.
Trump se envolveu em polêmicas com Zelenskiy nas últimas semanas, criticando sua condução da guerra, chamando-o de “ditador” e apelando para ele concordar com o acordo de minerais.
(Reportagem de Steve Holland e Nandita Bose; reportagem adicional de Tom Balmforth, Simon Lewis e Jeff Mason)