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Filme ‘Máquina do Tempo’ mistura ficção científica com música pop e estética vintage


“Máquina do Tempo”, filme independente britânico que estreia no Brasil dois anos depois de seu lançamento na Europa, traz uma mistura de ficção científica, música pop e estética vintage. A tal máquina do título não é um engenho para que as pessoas viajem no tempo. Ela traz informações do futuro para a Inglaterra do início da Segunda Guerra Mundial.

O diretor e roteirista Andrew Legge, que vem de uma carreira de curtas, conduz a narrativa acompanhando as jovens irmãs Thomasina e Martha, interpretadas por nomes emergentes do cinema inglês, Emma Appleton e Stefanie Martini. Elas usam a inventividade herdada do pai cientista para criar Lola, uma máquina que consegue captar transmissões de rádio e de TV no futuro.

O caráter pop de “Máquina do Tempo” já fica exposto na primeira experiência das irmãs com o aparelho. Elas captam uma transmissão da TV britânica de 1969, com David Bowie cantando “Space Oddity”, grande sucesso do início de sua carreira. O diretor justifica a escolha.

“Entre muitas razões, eu gosto de David Bowie. Mas eu creio que a escolha foi feita buscando uma música que pudesse parecer muito estranha no início da década de 1940, quase como algo alienígena. ‘Space Oddity’ não é uma canção trivial, é diferente do que as pessoas estavam acostumadas a ouvir, até mesmo no final dos anos 1960. Se eu usasse os Beatles por exemplo, as canções deles não provocariam tanta estranheza nas garotas.”

O longa tem, do começo ao fim, o visual de filmes antigos. Imagem em preto e branco, com a iluminação saturada. Mas, segundo Legge, esse efeito não foi obtido com uso de tecnologias modernas nem caras. “Produzimos tudo com câmeras e lentes originais dos anos 1930. E o filme em 16 mm foi revelado num antigo tanque soviético.”

Tudo passou longe da inteligência artificial. Entre muito material de arquivo da época, o espectador pode pensar que alguma coisa foi manipulada, mas Legge refuta totalmente. “Até nas cenas com Hitler, tudo é arquivo. Filmamos há três anos, nem estava tão disseminado esse debate sobre usar IA no cinema. No máximo mexemos um pouco pintando o fundo de algumas cenas, mas fizemos isso na mão, quadro a quadro.”

Na história, a máquina ganha um nome, Lola, título original do filme. Além de conectar as meninas com o pop do futuro, logo começa a ser utilizada para ouvir as notícias de rádio do dia seguinte. Assim, as irmãs ficam sabendo o noticiário sobre os avanços do exército alemão. E passam a criar um boletim de rádio que antecipa às pessoas onde vão acontecer os ataques. Com isso, várias vidas são salvas.

Um oficial acaba descobrindo a invenção. Ele propõe ser a ponte entre as informações de Lola e o exército britânico. Com essa ajuda, o panorama da guerra começa a mudar. Thomasina e Martha ficam eufóricas com sua atuação no confronto com os nazistas. Elas vão a uma festa de soldados e ali há outro momento divertido ligado à música pop. Martha canta “You Really Got Me”, um hino do rock inglês sessentista gravado pelo grupo The Kinks.

Aliás, “Lola” é título de outra canção da banda. “Eu gosto do Kinks, mas nem sou fanático. Pensei em ‘You Really Got Me’ por ser uma canção forte, para entusiasmar os soldados a cantarem junto com Martha. Não acredito que uma canção de Bowie funcionaria na cena”, explica Legge.

Mas o filme tem uma virada importante quando as previsões de Lola mudam os rumos do conflito, influenciando trocas de alianças entre os países envolvidos na guerra. Uma das mudanças é engraçada, com o surgimento do cantor fascista Reginald Watson. Uma criação de Legge com Neil Hannon, líder da banda The Divine Comedy, que assina a trilha sonora. “Nós pensamos em Reginald como uma espécie de ‘Bowie do mal’. As pessoas gostam do resultado.”

“Máquina do Tempo” se soma a alguns filmes que reescrevem a história real. Como “Bastardos Inglórios”, de Quentin Tarantino, no qual Hitler é assassinado num cinema, ou “Yesterday”, comédia romântica que cria um mundo onde os Beatles nunca existiram.

Por que essa manipulação do tempo parece ser tão fascinante? “Essa pergunta é interessante”, diz Legge. “Eu suponho que tem a ver com a maneira como as pessoas olham para suas próprias vidas. Alguns momentos muito importantes são sempre relembrados e questionados. Todo mundo tem algum arrependimento daquele momento em que poderia ter feito as coisas de uma forma diferente. E o cinema é a grande fantasia, não?”



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Semana de Moda de Paris tem clima de leveza com looks de Chanel e Dior


Mesmo em meio à instabilidade da indústria do luxo, a moda francesa reafirma a força das grifes com diretores criativos de longa data.

Há uma névoa de incertezas envolvendo a moda. Se o primeiro dia do calendário milanês de outono/inverno 2025 foi marcado por dúvidas, a atmosfera parece ter se tornado mais leve na capital francesa.

Ainda na Itália, o dia 25 de fevereiro foi particularmente nebuloso, quando a Gucci decidiu apresentar sua coleção para o próximo outono/inverno sem um diretor criativo —assim como há exatos dois anos, quando Alessandro Michele deixou a casa. Desta vez, aconteceu o mesmo com seu sucessor, Sabato De Sarno, que permaneceu no cargo por menos de dois anos.

A espera pelo próximo diretor criativo da grife, no entanto, está prestes a acabar. Segundo o jornal italiano La Repubblica, há grandes chances de Hedi Slimane, que esteve à frente da Celine por quase sete anos, ser anunciado como o novo estilista no próximo dia 13 de março.

Enquanto isso, em Paris, o clima parece estável. Estreias aguardadas, como a de Haider Ackermann na Tom Ford e a de Sarah Burton na Givenchy, recolocaram as grifes nos trilhos. A Chanel, ainda à espera da estreia de Matthieu Blazy em outubro, apresentou uma coleção equilibrada, reinterpretando seus códigos tradicionais – tweeds, fitas de cetim e pérolas. Afinal, a marca sabe operar em piloto automático, e seu produto já se vende por si só.

A maior prova de segurança da temporada francesa, que começou em 3 de março e terminou na última terça-feira, dia 11, veio de casas que mantêm uma relação de longo prazo com seus estilistas. Essa consolidação de estilo, muitas vezes interpretada como repetição, é, na verdade, uma garantia de coerência e solidez criativa.

Entre elas está Maria Grazia Chiuri, que não parece abalada pelos rumores sobre sua saída da Dior. A italiana, há oito anos à frente das coleções femininas da marca, não dá sinais de despedida —mesmo com boatos sobre a possível entrada de Jonathan Anderson, hoje estilista da Loewe, para comandar todos os segmentos.

Ao menos até seu desfile Cruise 2026, marcado para 27 de maio, em Roma. Seu retorno à cidade natal pode indicar um fim de ciclo? Talvez. Por ora, ela segue imersa no Dior Heritage, edifício que abriga o arquivo da grife, dissecando histórias ainda não revividas e estabelecendo um diálogo com seus antecessores.

Um deles é Gianfranco Ferré, arquiteto e ex-diretor artístico da maison entre 1989 e 1996, que resgatou a feminilidade em um guarda-roupa pautado pelo contraste entre leveza e rigidez. Por isso, as camisas brancas —símbolo da roupa liberta de estereótipos de gênero para Chiuri— surgem acompanhadas de transparências, jacquards e babados em golas removíveis. Mas também de casacos estruturados, bustiês, crinolinas e alfaiataria masculina, como o fraque, além de peças utilitárias.

Já as camisetas J’adore Dior, que marcaram a coleção street de John Galliano para o prêt-à-porter de outono/inverno 2001, retornam à cena em versões minimalistas ou adornadas com rendas.

Da mesma forma que revive a história da maison, a estilista busca uma conexão com o feminismo, seja na arte, na dança ou na literatura. Desta vez, ela escolheu “Orlando“, romance publicado por Virginia Woolf em 1928, como cerne para a construção da narrativa de sua passarela.

Para a Hermès, epítome da elegância francesa, a sensualidade sempre foi introduzida de forma sutil. No entanto, Nadège Vanhée-Cybulski criou uma atmosfera que remete às raízes de cavalaria da maison, ambientando o desfile em um labirinto de terra por onde amazonas desfilavam vestindo os couros mais macios.

Essa sofisticação se manifesta em casacos alongados com aberturas em fendas, saias, shorts, vestidos com decotes sedutores e calças. Os acessórios desempenham um papel essencial, com luvas, botas de cano alto e as bolsas icônicas que colecionam clientes ansiosas na lista de espera, como a Birkin e a Kelly.

Como coadjuvantes ao couro, o cashmere e a seda trazem novas camadas de sofisticação. O primeiro acrescenta conforto aos suéteres de gola alta, com ou sem zíperes laterais, enquanto o tecido acetinado –um dos materiais emblemáticos da grife– molda a silhueta ajustada, mas ainda assim fluida. Uma sequência sublime que comprova como a ousadia se traduz no estilo cotidiano da marca, que reina –sozinha— no pináculo do luxo.

Nas palavras de Nicolas Ghesquière, diretor criativo da Louis Vuitton, “quem ama pode pegar um trem”. “Abraços, rompimentos, reencontros, viagens com amigos. Tantas encruzilhadas convergem na estação, em todas as eras e fases da vida.

O ponto que realmente me interessou foi o saguão”, afirma o estilista, que escolheu o L’Étoile du Nord, um edifício adjacente à Gare du Nord, como palco para seu desfile. “É um lugar magnífico, como o palco de um teatro, mas pouco conhecido e secreto”, acrescenta.

Entre as fileiras, os holofotes recaem sobre looks fabulosos, caracterizados por sobreposições volumosas de transparências, estampas vibrantes e acessórios marcantes. Há também vestidos de feminilidade extrema, com elementos já conhecidos de sua passarela: ombros marcantes, cinturas bem definidas nos modelos curtos e slip dresses que exalam sensualidade dentro de uma estética moderna, sempre com um eco dos anos 1980.

Tudo isso embalado pelo som do Kraftwerk, trilha sonora escolhida por Ghesquière.

“O álbum deles, ‘Trans-Europe Express’, foi uma grande inspiração. Tudo — a música, o vídeo, vê-los no compartimento… E o trem tem um nome tão evocativo, uma linha expressa de prestígio para viajantes europeus. A capa aparece em alguns looks e acessórios”, explica o designer, que, há mais de uma década, traduz a arte de viajar —DNA da Louis Vuitton— para o vestuário feminino.

Se Miuccia Prada é a bússola criativa da Miu Miu desde sua criação, em 1993, seus questionamentos mais íntimos sobre a feminilidade sempre se tornam o fulcro de suas coleções. Brincar com diferentes noções dos símbolos femininos significa resgatar itens tradicionalmente glamourosos — como estolas e casacos de pele de carneiro, meias bordadas com pedrarias, broches e até sutiãs — e reinterpretá-los à luz da contemporaneidade.

O resultado dá à garota Miu Miu um novo arsenal de sedução, que inclui jaquetas bomber, blusas de segunda pele e saias de corte reto acima do joelho. Tudo, claro, sob os padrões da senhora Prada.



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Músicos que ganham pelo Spotify triplicaram em menos de uma década


O número de artistas que ganham dinheiro pelo Spotify é hoje equivalente a pelo menos o triplo do que era em 2017. A informação é do relatório anual da plataforma, “Loud & Clear”, que revela os principais dados sobre a economia do streaming de áudio.

Em 2024, a empresa foi a que fez mais pagamentos à indústria musical em 2024, com um total de US$ 10 bilhões no último ano. Esse valor corresponde ao maior da história do mercado da música, e supera qualquer montante pago por outras empresas em um único ano.

O valor quebra o recorde que vem sendo mantido pela plataforma há alguns anos. No ano passado, ele foi renovado com um montante equivalente a US$ 9 bilhões. Desde a popularização do streaming em 2014, seus pagamentos anuais aumentaram em dez vezes. Agora, o valor total que a empresa pagou à indústria musical desde a sua fundação passa a ser de US$ 60 bilhões.

As taxas pagas pelo Spotify vão primeiro para o detentor dos direitos autorais e, em seguida, para os artistas, que ficam com um valor menor.

A pesquisa também destaca a movimentação em royalties geradas por artistas independentes e pela expansão internacional da plataforma de música.

Segundo o relatório, cerca de 1.500 artistas cadastrados no Spotify geraram mais de US$ 1 milhão em royalties somente na plataforma. O streaming diz que 80% desses músicos não figuram entre os nomes mais conhecidos. Nenhum deles apareceu no Spotify Global Daily Top 50 de 2024.

Os dados também colocam o streaming como representante de mais de 50% da receita gerada, no mundo todo, por músicos indie em todas as plataformas de música.

Com relação ao alcance mundial do Spotify, 50% dos artistas que geraram mais de US$ 1 milhão no ano passado tiveram ouvintes além de seus países de origem como responsáveis pela maior parte dos royalties. Indo além, mais da metade dos músicos desse grupo colaborou com artistas de outro país.

Essa expansão também é evidenciada pelos 17 idiomas que aparecem entre as músicas produzidas pelo grupo destacado no relatório. Entre os artistas que geraram ao menos US$ 100 mil em royalties existem músicas gravadas em mais de 50 idiomas.

De acordo com o relatório, os dados acompanham um crescimento que a indústria musical apresentou como um todo na última década e revelam o peso dos serviços de streaming sobre as mudanças.

Nesse período, o mercado quase dobrou a receita total de US$ 13 bilhões registrados em 2014, e alcançou um valor de US$ 28 bilhões em 2023.

No ano passado, mais de 600 milhões de pessoas utilizavam o Spotify.



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Entenda a onda ‘tradwife’, de influenciadoras de direita belas, recatadas e do lar


Com um bebê loiro em um dos braços, a influenciadora Hannah Neeleman —também branca, loira e de olhos azuis— quebra ovos em uma batedeira Kitchen Aid amarela. Segue-se uma receita de barrinhas de arroz, feita em panelinhas do mesmo tom de amarelo da batedeira de R$ 2.700 e sob os olhos atentos e mãozinhas ágeis de mais três crianças. O vídeo publicado no Instagram já ultrapassa 280 mil curtidas.

A influenciadora de 34 anos é bailarina de formação, com bacharelado em dança pela faculdade Julliard, em Nova York, uma das mais importantes do mundo. No último ano de graduação ela já estava casada e grávida do marido, o herdeiro Daniel Neeleman, com quem hoje tem oito filhos.

O casal vive numa fazenda em Utah, estado americano famoso pela forte presença da comunidade mórmon, da qual Hannah e Daniel fazem parte. Os filhos do casal recebem educação domiciliar e são presença frequente, e de tom angelical, nos vídeos que a dona de casa compartilha na rede social para os seus mais de 10 milhões de seguidores sob o vulgo @ballerinafarm.

No cenário idílico da fazenda —e longe do suor e dos baldes plásticos usados em faxinadas mundanas— ela prepara do zero alimentos como mostarda, manteiga, iogurte e pão, além de cuidar do gado e recolher ovos da granja.

Segundo Eviane Leidig, autora de “The Women of the Far Right: Social Media Influencers and Online Radicalization” (As mulheres da extrema direita: influenciadores das redes sociais e radicalização online, em português), este é o tipo de tendência que “posiciona o trabalho doméstico como um espaço de felicidade e tranquilidade”.

E Neeleman não está sozinha nesse projeto. Outras influenciadoras carregadas de seguidores usam seus perfis no Instagram e TikTok para promover —com uma boa dose de glamour— a vida como donas de casa. Elas são chamadas de “tradwives”, ou “esposas tradicionais”. Segundo pesquisadores, por mais que as imagens produzidas por essas mulheres pareçam apolíticas, são formas sutis de promover valores como a maternidade e a ideia de que esposas devem se ocupar de tarefas domésticas.

A ex-modelo Nara Smith, que acumula ao menos 4,5 milhões de seguidores no Instagram, ganhou espaço com seus vídeos em que cozinha vestindo roupas de grife, por exemplo. Em um deles, usando um vestido branco decotado, com unhas feitas à perfeição e cabelo irretocável, ela faz um sanduíche que envolve a confecção do pão e do chimichurri, além da fritura de um bife alto.

“Meu marido vai viajar com os amigos e eu obviamente não poderia deixá-lo ir com fome”, diz ela, aos sussurros, na narração do vídeo. Assim como Neeleman, ela também é mórmon, grupo religioso associado não só a uma visão conservadora dos papéis de gênero, mas a todo um estilo de vida próximo ao dos pioneiros americanos, cercado de fé e trabalho.

A tendência das “tradwives” já cruzou o Atlântico. Perfis como de Victoria Maria Maciel, com 55 mil seguidores no Instagram, abrasileiram a ideia trocando a religião mórmon pelo catolicismo e incluindo brigadeiros em postagens que dizem “mulheres, sejam doces”.

Por aqui, a abordagem é um pouco mais pé no chão e inclui uma ocasional passada de pano no chão da casa ou um ciclo de roupas na máquina de lavar.

O estilo de vida dessas influenciadoras, principalmente Neeleman, chamou a atenção de veículos como o New York Times e a revista Evie, publicação feminina conservadora.

Enquanto o jornal nova-iorquino explora as raízes do sucesso econômico da influenciadora —que, junto do marido, administra uma fazenda com mais de US$ 400 mil investidos—, a revista vende como um sonho a vida de dona de casa.

Em um vídeo para promover a capa da Evie que protagoniza, Neeleman corre atrás de gansos usando um vestido românico lilás, longo e em camadas, além de botas de cowboy. Ela personifica, segundo o título da reportagem, o “novo sonho americano”.

Para Leidig, é um mito nostálgico. “São pessoas que dizem que a vida era mais simples antigamente, mas só era assim se você tivesse os meios econômicos de alcançar isso”, diz.

Devin Proctor, professor de antropologia na Universidade Elon e estudioso de comunidades digitais de ultradireita, faz eco à leitura. “Elas ignoram que esse passado foi opressor para pessoas que não eram brancas. A ideia que os Estados Unidos dos anos 1950 eram perfeitos, idílicos e pacíficos é um mito que só vale para parte da classe média alta branca.”

A crença é relacionada também ao mote nacionalista evocado pelo slogan “make America great again”, do presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Essas influenciadoras, porém, vendem de forma indireta o conservadorismo do movimento, sem precisar mencionar o nome de Trump.

Segundo Leidig, a imagem reproduzida pelas influenciadoras gira em torno de papéis “heteronormativos estritos” vistos em casamentos entre homens e mulheres, em que ela fica responsável pela casa enquanto ele trabalha fora. “Há também um desejo por filhos biológicos.”

Há, para Proctor, misoginia e racismo implícitos nessa tendência, que partem da valorização de um passado perfeito —que era, na realidade, recheado de desigualdade e opressão.

Os pesquisadores explicam que a maior parte das influenciadoras sob o guarda-chuva de esposas tradicionais não são —de forma explícita— supremacistas brancas. Mas são movimentos que se sobrepõem e chegam a ter representantes comuns.

É o caso da ex-blogueira Ayla Stewart, vulgo “Wife with a Purpose”, ou esposa com propósito. Em 2017, ela lançou na internet o “desafio do bebê branco”, em que convocava seus seguidores brancos a procriar. Em uma selfie de 2019, ela usou as hashtags “Maga”, em alusão ao slogan de Trump, além de “restoration” (restauração, em português) e “nacionalism” (nacionalismo, em português). Em seu site, ela inclui imagens com a hashtag “whiteculture”, ou cultura branca.

Leidig afirma que as origens da comunidade “tradwife” têm conexões diretas com grupos supremacistas brancos e redes racistas. “São comunidades online que se sobrepõem porque tanto supremacistas quanto as “tradwives” valorizam ideias em comum sobre hierarquias de gênero.” A autora diz que a tendência se originou por volta de 2015 e se deu principalmente em fóruns e chats online de grupos redpill —movimento conspiracionista e masculinista da ultradireita— e supremacistas.

Existem ainda influenciadoras que são mais vocais sobre política, caso de Estee Williams. Com cabelos loiros arrumados em penteados à la anos 1950 combinados com aventais de cozinha, a influencer fez campanha para Trump em suas redes, onde também advoga contra o aborto. Mas ela se distancia do discurso racista quando diz que existem “‘tradwives’ de todas as cores ao redor do mundo”.

Williams é uma das várias que criticam abertamente o feminismo. Para ela, o feminismo falha em não reconhecer que, no fim, ela e outras mulheres que escolhem ser donas de casa estão tomando decisões por conta própria.

Para Leidig, é um refluxo de certa frustração com a figura da “girlboss” —mulheres que equilibravam na mesma bandeja uma vida profissional ambiciosa, um casamento bem-sucedido e a maternidade.

A autora diz que a linguagem sutil adotada pelas “tradwives” para promover esse estilo de vida é um movimento estratégico. Mas os chamados “dog whistles”, mensagens cifradas de carga política direcionadas a pessoas com os mesmos ideais, ainda aparecem.

É o caso dos acenos a movimentos antivacina e à indústria de bem-estar. A fundadora da revista conservadora Evie advoga pelo leite não pasteurizado em seu Instagram, numa releitura da campanha “got milk?”, criada nos anos 1990 para aumentar o consumo de leite nos EUA.

O leite não pasteurizado é uma das bandeiras de Robert Kennedy Jr., secretário de saúde do governo Trump, que também se posiciona contra a obrigatoriedade de vacinação e a presença de flúor na água.

“Narrativas de maternalismo se tornam armas na comunidade “tradwife” como se elas estivessem protegendo seus filhos da indústria de alimentos ou da indústria farmacêutica”, diz Leidig. É um clima de desconfiança em que os consensos científicos correm risco de ser esmagados.

Para Leidig, são figuras perigosas, não só para mulheres que podem se inspirar a entrar em relações de submissão, mas para homens que consomem esse conteúdo –e, assim, acham que todas devem ser belas, recatadas e do lar.



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Fernanda Montenegro é ovacionada em pré-estreia de ‘Vitória’, seu novo filme


Durante o evento de pré-estreia do filme “Vitória”, a atriz Fernanda Montenegro, que faz o papel principal na produção, foi aplaudida de pé pela plateia que acompanhou a exibição do longa. O evento aconteceu no Theatro Municipal, em São Paulo, na noite desta segunda, dia 10.

“Na idade em que estou, posso até continuar fazendo minhas leituras em palcos, mas cinema pede físico, pede fôlego. É um momento muito especial nesse palco aqui agora. Muito obrigada”, disse Fernanda ao público.

O longa, que estreia nesta quinta-feira (13), é baseado em uma história real. Montenegro encarna uma mulher que filmou por conta própria a rotina do tráfico de drogas na Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, e levou a denúncia à polícia. Ela se alia a um jornalista, papel de Alan Rocha, para denunciar o esquema. O elenco também inclui Linn da Quebrada, Laila Garin e Thawan Lucas.

O projeto foi inicialmente comandado pelo cineasta Breno Silveira, que morreu de mal súbito no primeiro dia de filmagens. Andrucha Waddington foi quem assumiu a direção.



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Karla Sofía Gascón recebe prêmio em Madri por seu papel em ‘Emilia Pérez’


A atriz Karla Sofía Gascón, que concorreu ao Oscar de melhor atriz por seu papel em “Emilia Pérez“, foi premiada por sua atuação na 33ª edição do Prêmio da União de Atores e Atrizes, entregue em Madri, na Espanha, nesta segunda-feira (10).

A ocasião marcou a sua primeira aparição pública em seu país de origem após a onda de críticas que a artista sofreu com o ressurgimento de diversos tweets ofensivos feitos em sua conta no X. Gascón também compareceu ao Oscar, que aconteceu no último dia 2 de março, e à premiação francesa César.

Nos tweets, publicados principalmente entre os anos de 2020 e 2021, a artista compartilha opiniões controversas a respeito de acontecimentos como o assassinato de George Floyd e expressa seu ponto de vista sobre a população muçulmana, entre outros exemplos.

No evento em Madri, Gascón desfilou no tapete vermelho, declarou estar muito feliz com a ocasião e pediu por “mais amor e menos ódio”.

“Cinco anos atrás eu estava me apresentando no México, onde apenas uma pessoa compareceu, e mesmo assim fui insultada nas redes sociais. Há uma semana eu estava no Oscar e algumas pessoas gostariam de me ver queimando numa árvore como na Inquisição. Nada mudou, assim como minha animação não mudou”, declarou a atriz.

“Não sou um robô, sou uma mulher como qualquer outra, com minhas virtudes e meus defeitos, às vezes um pouco idiota, com uma filha a quem quero deixar um mundo melhor. Minha saga favorita é ‘Star Wars, sempre lutei contra o lado negro”, adicionou ela.

Gáscon ainda disse que a arte é incapaz de existir sem imperfeições e declarou que seguirá fazendo o seu melhor para crescer enquanto pessoa.



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‘Moana 2’ e especial com John Mulaney: o que ver na TV e no streaming na quarta


A animação musical “Moana 2” se tornou o terceiro filme de maior bilheteria do ano passado, ultrapassando US$ 1 bilhão (R$ 5,8 bilhões). Moana é diferente das outras princesas da Disney, trabalha ao lado do semideus polinésio Maui e se lança ao mar como gesto nobre. Depois que recebe um chamado de ancestrais, ela e Maui se reencontram para viver outra jornada pelos mares perigosos da Oceania com o seu grupo improvável de tripulantes.

Disney+, livre


Netflix, 23h, 12 anos

Em maio de 2024, John Mulaney se saiu muito bem conduzindo um programa ao vivo por seis dias. Agora, o comediante repete o feito, semanalmente, em inglês, por três meses, em um talk show onde ele recebe celebridades no sofá.


Não Fale o Mal

Prime Video, 18 anos

No suspense protagonizado por James McAvoy, uma família de americanos viaja de férias e conhece uma família britânica que os convida para passar um fim de semana em sua idílica casa de campo. O que começa como uma viagem de sonhos vira pesadelo.


The Rookie

Universal+, 14 anos

A série criada por Alexi Hawley estreia a sua sétima temporada. John Nolan, o policial que descobriu sua vocação tarde na vida, se recupera de um tiro na bunda, ao mesmo tempo que tem de lidar com o desejo da mulher, Bailey Nune, de ter um filho. Nathan Fillion e Jenna Dewan vivem o casal.


Cinéticas

Curta! e CurtaOn, 21h30, 10 anos

A série promove o encontro de cineastas brasileiras com realizadoras latino-americanas para entender como são seus processos criativos. São nove episódios. Na estreia, Tila Chitunda desenvolve um retrato íntimo da documentarista reconhecida por suas diversas obras a respeito da diáspora negra, Everlane Moraes.


O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim

HBO, 22h, 14 anos

O anime se passa 200 anos antes dos eventos da trilogia “O Senhor dos Anéis” e conta a saga de Hera, filha de Helm Mão-de-Martelo, que atende ao chamado para liderar a resistência na antiga fortaleza de Hornburg e proteger seu povo contra um inimigo.


Film&Arts, 0h50, 14 anos

O suspense cômico escrito e dirigido por John Turturro é derivado de seu personagem Jesus Quintana de “O Grande Lebowski“. Um trio de amigos se torna inimigo de um cabeleireiro de um modo inesperado e precisa fugir da lei, da sociedade e do sujeito.



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Fernanda Montenegro lota a Academia Brasileira de Letras com recital de textos


A acadêmica Fernanda Montenegro, 95, divertiu e emocionou o público presente na Academia Brasileira de Letras, no Rio de Janeiro, na tarde desta terça-feira (11). A atriz faz leituras de contos e crônicas de escritores que já passaram pela ABL e atuais acadêmicos.

Entre os atuais, há textos de Ailton Krenak, Ana Maria Machado, Antônio Torres, Domício Proença Filho, Edgard Telles Ribeiro, Heloisa Teixeira, Ignácio de Loyola Brandão, Paulo Coelho e Ruy Castro. Textos de Machado de Assis, João Guimarães Rosa e Rachel de Queiroz também estão na leitura.

O recital, batizado de “Uma Academia Toda Prosa”, abre a temporada de eventos da Academia em 2025.

As entradas, gratuitas, foram disponibilizadas pela internet no dia 7 de março, e acabaram no mesmo dia —havia previsão de abrir uma nova rodada de entradas, mas a capacidade máxima já havia sido ocupada.

Momentos antes do início do evento, uma extensa fila ainda estava formada na avenida Presidente Wilson, endereço da sede da ABL.

O auditório da ABL, com capacidade para cerca de 250 pessoas, ficou lotado. Jovens formavam boa parte do público. “Quero aproveitar todos os momentos de aparição pública da Fernanda Montenegro”, diz a estudante de cinema Bellina Monteiro, de 20 anos.

Montenegro atua em “Ainda Estou Aqui”, de Walter Salles, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, ainda em cartaz, e também estará nos cinemas com o filme “Vitória”, de Andrucha Waddington, que estreia na próxima quinta (13).

Fernanda Montenegro ocupa a cadeira 17, anteriormente ocupada por Affonso Arinos de Mello Franco, morto em 2020. A atriz tomou posse em março de 2022.

O recital com Fernanda Montenegro abriu a temporada de eventos da ABL abertos ao público. Estão programadas 38 conferências às terças-feiras ao longo do ano.

Na próxima (18) serão apresentadas as mesas “Lugares da Literatura”, com o acadêmico Godofredo de Oliveira Neto, e “Samba de enredo e Literatura”, com o historiador Luiz Antonio Simas.

Às quintas-feiras a Academia programou mesas-redondas, peças de teatro, lançamento de livros e filmes.



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Cartunista percebe seu potencial de impacto na educação – 11/03/2025 – Ilustrada


Cartunista da Folha há quatro anos, Marília Marz, 33, começa a entrevista preocupada se seu gato Sonho iria atrapalhar a conversa.

Além da impaciência do animal, outro desafio surge para a gravação: uma reforma no apartamento da artista. Fica um clima tenso no ar, mas à medida que Marília começa a descrever seu processo criativo, o felino se acalma ouvindo a voz da tutora. E, para nosso alívio, apenas com o enquadramento das câmeras a bagunça desaparece.

Normalmente, a criação das charges começa às quartas-feiras. A artista faz uma ronda pelo noticiário, procura pautas que acha interessantes, checa quais já foram tratadas por colegas, e avalia se ainda há margem para explorar os assuntos.

Marília nem sempre gosta de retratar os temas políticos, prefere a temática cotidiana. Desenha a charge na sexta, mas “às vezes acontece algo muito chocante e surge uma nova ideia, mesmo que já tivesse algo pronto sobre outro assunto, prefiro me forçar a criar algo novo”, diz a cartunista.

O trabalho é publicado às 23h15 da sexta no site da Folha, e chega às mãos dos leitores da edição impressa todos os sábados.

Parte da última turma do programa “Ciências Sem Fronteiras”, criado em 2011 durante o governo Dilma e encerrado em 2017 por Temer, a desenhista conseguiu uma bolsa na Universidade de Oregon para estudar arte e quadrinhos nos EUA.

Foi lá que Marília Marz começou a fazer suas primeiras HQs. Seu TCC rendeu o livro “Indivisível”, lançado pela editora Conrad em 2022, onde fala sobre o encontro entre as culturas negra e do leste asiático no bairro da Liberdade, em São Paulo. “Esse trabalho foi o que abriu minhas portas para o meu desenho”, diz.

De volta ao Brasil, começou a trabalhar como expografista no regime CLT, com a boa e velha carteira assinada. Fora do horário de trabalho, desenhava. “Eu fazia cartum, ilustração, desenho, até que fui chamada para ser chargista da Folha”. A empolgação ao falar é tanta que não esquece de sua primeira charge no jornal. Publicada em 24 de abril de 2021, ainda na pandemia, o desenho mostra uma pessoa tatuando “sobrevivente 2020-2021” em uma faixa nas costas dentro de um coronavírus.

No trabalho do jornal, fica feliz ao ver seu trabalho fomentar discussões e debates. “Quando uma charge tem repercussão, seja ela boa ou negativa, mostra que o desenho não é só um desenho. Ele tem um significado muito além daquilo”, diz.


Os trabalhos como ilustradora começaram a aparecer cada vez mais. Até que percebeu que poderia se sustentar apenas com seu desenho. Receosa por abandonar a “vida de CLT”, se preparou e juntou “uma grana para tentar fazer essa mudança de vida”. Há três anos vive apenas do desenho, como autônoma.

Nesse período, o Indivisível, seu “quadrinho-TCC”, foi aprovado no edital do PNLD, o Plano Nacional do Livro Didático, e, por meio do Ministério da Educação, foi distribuído nas escolas públicas. “Memória, negritude e cultura negra em São Paulo não eram assuntos que eu sabia que existiam quando eu estava na escola. Agora, as crianças de dez anos estão lendo sobre isso”, afirma.

“Fico feliz sempre que eu vou dar oficina ou palestra em alguma escola. Vejo que meu trabalho tem espaço ali”, diz. Junto a isso, acha importante mostrar que o desenho também é profissão —”não tão linear quanto outras, mas é importante mostrar que esse universo existe e você pode fazer parte dele.”

Descreve o início da carreira de artista como “nebuloso” e diz ser difícil fazer desenhos para si e os encaixa nas “brechas da vida”. Existe um “tempo do trabalho autoral” e o tempo do “trabalho que paga as contas. É difícil de administrar”

Como parte da série, a Folha entrevistou João Montanaro e questionou se se considerava artista. A pergunta a deixou um pouco nervosa. Não tinha certeza se saberia respondê-la. É ilustradora, cartunista e artista, mas ainda está longe de ser a artista que almeja. “Ainda tem muita coisa que passa pela minha cabeça que eu poderia desenhar. Em algum momento eu vou conseguir tirar tudo isso da cabeça e me identificar mais como artista.”


Traços é uma série quinzenal que mostra os cartunistas por trás das charges e tirinhas da Folha, e seus processos criativos.



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Saiba como foram os últimos dias de Gene Hackman e sua mulher, Betsy Arakawa


Antes de Gene Hackman desaparecer da vista pública em sua cidade adotiva de Santa Fé, Novo México, os locais viam o envelhecido astro de cinema no campo de golfe, em sua caminhonete ou passeando com seus amados cães na encantada cidade ocidental, em meio ao mesquite, zimbro e pinheiro pinyon.

Sua esposa, Betsy Arakawa, estava frequentemente ao seu lado. Havia muito sobre sua vida que ela gerenciava. Ela organizava os jogos de golfe com seus amigos. Ela controlava sua dieta, devido aos problemas cardíacos que o atormentaram por décadas. Ela diluía seu vinho com água com gás. Ela digitava e editava os romances que ele escrevia à mão.

Ela também aparentemente assumiu o papel de única cuidadora enquanto ele suportava os devastadores efeitos do Alzheimer. Trinta anos mais jovem, ela deve ter planejado acompanhá-lo até o fim, em sua casa.

E foi ainda mais chocante na sexta-feira (8) quando as autoridades do Novo México revelaram mais reviravoltas sombrias no mistério de como o casal morreu no mês passado em sua casa de quatro quartos, escondida por árvores no final de um luxuoso beco sem saída a leste da cidade.

As autoridades disseram que o casal morreu de causas naturais, ele de doença cardíaca e ela de uma rara infecção viral. Mas foi Arakawa —a cuidadora, amante, protetora— quem morreu primeiro, talvez em 11 de fevereiro, deixando Hackman, de 95 anos com Alzheimer avançado, sozinho na casa por dias. Acredita-se que ele tenha morrido uma semana depois, em 18 de fevereiro.

Seus corpos em decomposição não foram descobertos por mais oito dias, quando um trabalhador de manutenção chamou um segurança para a casa depois que ninguém atendeu à porta. Os trabalhadores de emergência encontraram Arakawa, de 65 anos, no chão de um banheiro perto de um frasco de remédio e pílulas espalhadas. Zinna, um de seus três cães, estava morto em uma caixa em um armário. O corpo de Hackman foi descoberto em uma sala com chinelos e uma bengala.

O chefe do exame médico do Novo México disse na sexta-feira que a doença de Alzheimer foi um fator contribuinte na morte de Hackman. Arakawa morreu de hantavírus, que é contraído através da exposição a excrementos de roedores, frequentemente o rato-cervo no Novo México.

Os detalhes exatos do que aconteceu na casa ao longo daquela semana podem nunca ser conhecidos. Amigos e vizinhos disseram que o casal havia se recolhido cada vez mais nos limites privados de sua casa na colina desde o início da pandemia de covid-19.

Mas a linha do tempo apresentada na sexta-feira levanta a possibilidade aterrorizante de que Hackman, um veterano da Marinha e ator de precisão e controle consumados, tenha passado dias na presença de sua esposa caída, desorientado ou fraco demais para pedir ajuda —preso, essencialmente, na bela e isolada casa que havia sido sua recompensa por uma vida trabalhando sob os holofotes.

Hackman foi atraído para Santa Fé no final dos anos 1980, logo após seu divórcio de sua primeira esposa. Ele já havia ganhado um Oscar por seu papel principal no thriller de 1971, “Operação França“. Outro Oscar, como ator coadjuvante no faroeste de 1992 “Os Imperdoáveis“, viria mais tarde.

Seu pai, que abandonou a família quando Hackman tinha 13 anos, era impressor do jornal local. Sua mãe era garçonete. Mas Hackman tinha um lado boêmio e foi atraído pela deslumbrante paisagem natural de Santa Fé e pelos artistas que a paisagem inspirava. Ele se tornaria um deles, passando grande parte da segunda metade de sua vida pintando, esculpindo e escrevendo ficção em Santa Fé, longe das casas de troféu de Beverly Hills, Califórnia, que muitas celebridades de seu calibre habitam.

Arakawa era uma pianista clássica, nascida no Havaí. Ela conheceu Hackman em Los Angeles em um centro de fitness onde tinha um emprego de meio período. Ele havia esquecido seu cartão de entrada, e ela se recusou a deixá-lo entrar, segundo Rodney Hatfield, um amigo. Eles se casaram em 1991. Amigos disseram que o relacionamento parecia natural, apesar da diferença de idade.

Tom Allin, um amigo de longa data de Hackman, disse que Arakawa sempre serviu como uma espécie de guardiã para seu famoso marido. Ao longo de uma amizade de 20 anos com Hackman, Allin nunca se lembrou de falar com ele por telefone ou de enviar emails para ele. Ele sempre organizava jogos de golfe ou visitas através de Arakawa. Desinteressado em tecnologia, Hackman não tinha um celular que Allin soubesse.

“Ela era muito protetora com ele”, disse Allin, acrescentando que Hackman parecia feliz em deixar sua esposa cuidar das coisas.

Ele lembrou Hackman dizendo que teria morrido “há muito tempo” sem sua esposa cuidando dele e garantindo que ele comesse de forma saudável.

Em janeiro de 2020, pouco antes da pandemia, Allin disse que viu seu amigo em seu 90º aniversário em Islamorada, Flórida. Ele lembra de Arakawa misturando água com gás em seu vinho. “Ela realmente cuidava dele”, disse.

Ele também disse que podia sentir que Hackman estava declinando. O casal tinha uma tradição de que Hackman cozinharia o jantar todos os anos para o aniversário de Arakawa. Em 2023, ela voltou para casa esperando uma refeição, lembrou Allin, mas Hackman havia esquecido seu ritual.

Como muitos americanos mais velhos, Hackman se recolheu em casa durante a crise da covid para se manter seguro. Nos últimos anos, vizinhos em Santa Fe Summit, a comunidade fechada onde o casal vivia, disseram que não viam sinal do casal, exceto por suas latas de lixo na beira da estrada, esperando para serem recolhidas.

Durante a coletiva de imprensa de sexta-feira, o xerife Adan Mendoza do condado de Santa Fé disse que os investigadores determinaram que em 9 de fevereiro, um domingo, Arakawa havia buscado Zinna de um veterinário após o cão passar por um procedimento, o que poderia explicar por que Zinna estava sendo mantida em uma caixa.

Em 11 de fevereiro, talvez horas antes de morrer, Arakawa enviou um e-mail para sua massagista pela manhã e depois foi a um supermercado à tarde. Ela também foi capturada em vídeo de vigilância fazendo uma breve parada em uma farmácia. Mendoza disse acreditar que ela usou uma máscara naquele dia enquanto estava em público, o que ela frequentemente fazia para evitar levar doenças para seu marido, disseram amigos.

Arakawa parou em uma loja de alimentos para animais de estimação local mais tarde naquela tarde e depois voltou para seu bairro por volta das 17h15, disse o xerife. Ela não respondeu a nenhum e-mail após aquele dia.

Questionado se o casal tinha alguém cuidando de Hackman, Mendoza disse: “Neste ponto, não há indicação de que havia um cuidador na casa.”

Hatfield, amigo de longa data de Hackman, disse que Hackman amava Santa Fé porque lhe permitia viver uma vida que nem sempre era a de uma estrela. “Eu sei que Gene não gostava do papel de celebridade”, disse. “Era bastante óbvio.”

Outro amigo, Stuart Ashman, disse que a solidão era frequentemente o objetivo para as pessoas que migravam para Santa Fé. “As pessoas vêm aqui como uma forma de se esconder”, disse. “Eles certamente fizeram isso.”

Este artigo apareceu originalmente no https://www.nytimes.com/2025/03/08/us/gene-hackman-betsy-arakawa.html



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